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Poema da insatisfação


Tenho fome, mas não apetece sair da cama
Tenho sede, mas um copo sequer irá saciar
Sinto frio, mas não tiro os pés da lama
Quero colo, mas este solo não irá me abrigar

Há solidão, mas um ombro amigo cairia bem
Vivo sonho, mas a realidade põe os pés no chão
Vivo festa, mas não convidei, não veio ninguém
Tenho sono, mas a insônia penetra no meu colchão

Em nauséas, mas a indigesta frieza me apavora
E as dores, mas os remédios que não curam
E tremores, mas as mãos que não mais seguram

Há alegria, mas o tormento que me devora
Ah, o amor, mas vejo a indiferença reinar
Eis a fome, a solidão e as náuseas no não amar

Relatos do fundo do poço


Eis que me encontro novamente
Na janela, debruçada
Em lágrimas, debulhada
Revirando temores da mente

Perversa! Humilha o pobre coração
Que já se encontra no fundo
No mais escuro e profundo
Poço... À espera da salvação

E em sua cruel e plena infinitude
Eu, ansiosa, aguardo a plenitude
De à superfície um dia retornar

Pois a dor, nada tão agonizante
Percorre o infinito num instante
Neste triste relato do não amar

Lágrimas na janela


Esta noite sentei-me sobre a janela
A brisa batia suavemente em meu rosto
No criado-mudo, queimava a vela
Refletindo as lágrimas, amargo gosto

Imaginei ter visto o seu sorriso; o céu
Pedindo que me jogasse em seus braços
Implorei q tocasse os meus lábios de mel
Mas o choro derramou os meus fracassos

Mas quem disse que chorar é ser fraco
Engana-se, nada pode ser mais franco
Do que ao mundo revelar sentimentos

E tal percepção impediu-me de alto voar
E na janela do quarto fiquei a contemplar
O mais alto dos vôos: os bravos momentos

Quatro elementos


Deixe fluir

As águas fluem para o mar

As emoções irão levar

Apenas deixe fluir


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O amor, sonhar em parceria

Paz interior, eterna alegria

Apenas compartilhe


Deite e sinta

Livre e essencial: o ar

O pulmão a atravessar

Apenas sinta


Deixe e viva

O fogo que invade, deforma

Atravessa e transforma

Apenas viva


Agradeça

Na união divina, o acalento

Na harmonia de cada elemento

Apenas agradeça

Manifesto do Silêncio

O silêncio: um grito ensurdecedor
Manifesta-se vivo no Universo
Ecoa no ar, ou na latente dor
Ecoa no infinito deste verso

Eis o silêncio em alto e bom som
Um diálogo sereno, feito para ouvir
Na sonoridade Universal do OM
Ou na imensidão do mar sentir

Pois no silêncio encontro a mim
Solidão? Solidez? Começo do fim?
Sim, do sofrimento que inquieta

Afinal, no silêncio estou a meditar
Na plenitude de aprender e ensinar
No manifesto da paz que aquieta


Considerações poéticas:
As expressões artísticas se mesclam, se misturam até o ponto em que não é possível saber mais o que é o que. Eis a mágica, a interligação e interdependência. Ex.: música = poema sonoro.
Pois a música a seguir, (ins)piração para escrever o que chamo de poema, mas pode não ser, nasceu de uma noite em que eu assistia ao filme Watchmen. Sound Of Silence faz parte da trilha:




Dá-me Paris!

Deus, salva a tarde enfadonha!
Com Edith Piaf. E jantares caros
Cigarros. Homens e seus carros
A ingenuidade sem-vergonha

Um porre, um amor de verdade
A juventude transviada! Amantes
Películas francesas, espumantes
Dá-me Paris de sedutora vaidade

Deus, envia minha alma à sorte
Oh! Carpe Diem... C'est la vie!
Embriaga-me em uma perfumerie
Ou desgraça-me a viver a morte


Oh, suplico! Livra-me! Livra-me
Da rotina e solidão... Sufocantes
Quero o som dos passos flutuantes
Da malícia. Dá-me Paris. Dá-me!




Complementação ou Observação pós poema:

Experiência não me fez sábia
Sabedoria não evitou os erros
Uma mulher vivendo os mesmos
Que até uma adolescente viveria

Revelações

Revelações intrinsecamente equacionadas
Entre parâmetros obtusos e protuberantes
Senão obstante... Muito pelo contrário!


Revelações sutis, intrinsecamente conectadas
Com o oculto do ser, e por incidência do destino
Essências em permanentes devaneios transformadas


Revelações que alastram todo o teor alcoólico
E intelectual, lançados na mesa do esquecer
Na esquina do ter, distante da pilastra do ser


Revelações que exalam o conhecimento e a perspicácia
Traduzem ideologias e utopias... Palavras tão díspares
Tão concomitantemente iguais. Indubitável clareza!


Revelações que desatinam sem doer, ardem sem se ver
Delineadas por Camões viram fogo ardente, calor
Revelações tão contrárias a si como o próprio amor

Aurora

Queria amar-te bem devagarinho
Sentindo os dedos entre os meus
Em ti, aconhegar-me de mansinho
Entreter-me com os carinhos teus

Sentar-me na varanda ao teu lado
Recatada como uma moça virgem
Ou atirada, nua sob o olhar safado
Num rio deleitar-me na margem

Mas causar-me-ia espanto agora
Se o singelo sonho da linda aurora
Repousasse lento sobre nós dois

Brisa de amor. Estrelas cairiam do céu
Não haveriam noites escuras ou fel
Mas, sim, dias com dois ou mais sóis

To the dancers in the rain


Não, não quis mais jogos de azar
Não se tratava de perder ou ganhar
O meu amor que estava em jogo
Não podia esperar; nem brincar

Os beijos meu coração entendeu
Selados na chuva, não esqueceu
We were dancers in the rain
E o tempo assim transcendeu

Veja: o amor não se foi, só cansou
Pra bem longe, esquecer, voou
Foi descansar, viver por ele mesmo
E um pedaço com você deixou

Beija-flor



Voa por entre as matas verdejantes
Voa amado beija-flor, sem direção
Sem norte, sem pouso, nem apego

Vá enquanto vejo-te voar ao longe
Observo o quão alto voa. E rápido
Próximo de mim apenas para bicar

Apenas para sugar meu néctar
E depois ir, sempre mais longe
De onde sequer eu possa alcançar

Voa livre. E outra flor vá beijar
Enquanto eu fico só a te invejar
Amado. Sempre meu. Nunca meu

Acalento

A arte de chorar e rir ao mesmo tempo
Quando tão absurdo é pensar no tempo
E em quem me toma o que há de tempo

E relativo é saber que mais que tempo
Lacônico, sádico e atrapalhado tempo
O que preciso mesmo é de um acalento

Dança do amor

Dois pra lá, dois pra cá
Mas estou conduzindo
Dançando
Aqui e acolá

Alguns acham que sou má
Mas estou me divertindo
Jogando
Que mal há?

Se apenas quero bailar
Estou apenas brincando
Sonhando
Até onde dá...

Colcha de retalhos









Quem é você? Quem é?
Cheio de razão pra dizer
O que eu devo esperar
O que eu devo querer
Ordeno que me deixe!
Aceite a melancolia
Deixa-me viver a ilusão
Que o vento leva num dia
A maré traz de volta noutro
Envolta em pensamentos
Sentimentos e emoções
Costurados num só ser
Como uma colcha de retalhos
Deixa-me viver a ilusão
Esperar na janela
Esperar, esperar em vão
Que me importa a expectativa
Pois quero viver, sonhar
É um direito meu, não?
Na janela esperar...
Envolta na colcha de retalhos
Na noite que se faz tão bela
Testemunha do nosso amor
Seguro-a. Tem o cheiro
Tem o seu sabor
Lamentos e sensações
Alegrias e decepções
Entrelaçados num só ser
Como uma colcha de retalhos...

Desprezo

Continue a desprezar quem te ama
A mergulhar fundo na superficialidade
Poupando-me da espera, do sentir
Ou preocupado com a culpa que há de vir?

Culpa! Culpa! Quem a tem se te quero?
Se nada além de amor é o que espero
Mas se desprezo é tudo que pode ofertar
Viva a superficialidade do não amar...

Seu, meu modo de amar

Não, não pensei que era só meu
O seu amor
Mas não pensei que não era seu
O tal do amar

Que a ti não mais importava
Ser amado
Que tão longe do amor estava
O coração calado

Não, não pensei que era só meu
O seu ardor
Mas não quero dividir o suor seu
Com outro calor

Não, não pensei em administrar
Tanta sedução
Sequer pensei ser capaz de sonhar
Em meio a ilusão

Mas não pense que eu sou boba
Sem razão
Nem espere que eu te espere a vida toda
Para receber o não

Não, não pense que não sofro só
Ou em vão
Mas também saiba que a cada nó
Dissipa-se a paixão

Estrelas

Até as estrelas no céu me olham inexpressivas
Sem o calor e o som que estão ao longe
Parecem ainda mais distantes e depressivas
Se não as tenho, nem a paciência de um monge

Ah, quanta falta faz a luz que delas emana
Que como um guia costumava me orientar
Livrava-me da minha própria mente insana
Das marcas... A dor e a delícia de te amar

Sei de cor seus medos e a sua fantasia
E quando eu for embora sei que cantará
A canção do Oswaldo Montenegro que a gente ria

E sei que sentado sob as estrelas e a lua fria
Entre tantas recordações, da música lembrará
E quem sabe um dia me encontrará em alegria

Pele


O toque sensual, bem de mansinho, malicioso
Ao corpo traz o aconchego... Ah, afago jocoso
Que dá a alma paz e conflito! Gosto de subversão
Charada arriscada, folia, aposta com a emoção...

Jogo de pele... Que de leve encosta uma na outra
Em posições que parecem ter saído do kama sutra
Mas por debaixo da colcha, apenas o puro instinto

Reações que atravessam a mente e o espírito

Polaridade

De alegria, chora a alma
Transitando na ânsia calma
Com a aorta dilacerada
Mas de alma renovada

Sensibilidade a mil
Transborda de sangue vil
O instinto aflorado
No tumulto gerado


Tumulto de percepções
No duelo de sensações
Que urgem nos astros
Nos planetas e cosmos

Borbulham as aflições
Misturam-se as estações
O frio congela a apatia
O calor aquece a sabedoria